O TEXTO E A SUA SITUAÇÃO VITAL (Mt 2,1-12)
Do ponto de vista literário, o capítulo segundo se apresenta bem estruturado, dividido em dois blocos. Em primeiro lugar, a história dos “Magos” se divide em duas seções que tem como referência Jerusalém (vv.1-8) e Belém (vv.9-12); cada uma destas seções é introduzida pela viagem e pela chegada dos magos. Esta narrativa constitui o ponto de partida da segunda parte do capítulo (fuga do Egito), que é estruturada segundo o modelo do trítico literário (13-15/ 16-18/19-23).
A primeira parte (vv.1-12) se caracteriza por refinado jogo de contraposições: entre Jerusalém que treme e Belém onde resplandece a estrela, entre o rei dos Judeus e o rei Herodes; entre Herodes e os magos que rendem homenagem ao menino apenas nascido; entre os pagãos que percebem o sinal da estrela e os sumos sacerdotes/escribas que não se mostram interessados.
A segunda parte (vv.13-22) desenvolve o tema do cumprimento das escrituras e a realização do plano divino.
Toda a história dos “magos” deve ser lida como uma reflexão teológica que o autor fez sobre a salvação trazida por Cristo aos povos estrangeiros (não somente Israel).
A intenção do evangelista é aquela de expor os fatos de modo a acentuar a incredulidade dos Judeus.
Igualmente com a fuga ao Egito que nos fazer refletir sobre a guia e a proteção que Deus dá ao Messias e sobre todos aqueles que o acolhem, não obstante a oposição dos poderosos à realização do seu desígnio. Existem duas “estratégias” que se contrapõem: aquela do rei Herodes que tem como efeito morte e devastação, e aquela de Deus que comporta plenitude de vida.
“Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém” [Mt 2,1]
Segundo os dados (teológicos) fornecidos pelo evangelista Jesus nasceu no povoado de Belém, no território da Judéia, enquanto reinava Herodes, o Grande, (73-74 a.C.), noto pela sua abertura à cultura grega (ele na verdade embelezou Jerusalém com importantes monumentos públicos e reconstruiu o templo), mas também pela sua crueldade e despotismo.
Este monarca, considerado um usurpador do trono davídico, aparece desde o princípio, na narrativa do nascimento de Jesus, como figura representativa do poder e antagonista do enviado de Deus. Mateus é o único dos evangelistas a dar ressaltas fortemente o personagem de Herodes (citado 9 vezes no capítulo).
A surpresa causada pela chegada dos “magos” (pagãos) a Jerusalém é salientada pela partícula “eis...”. Estes personagens, pelos quais tem inicio o desenvolvimento da narrativa são anônimos e enigmáticos (não são reis e não se indica o número deles). Na verdade, na antiguidade, com o termo μάγοι = “magos” se indica aqueles que se dedicam às artes ocultas, praticadas por adivinhos e pelos astrônomos-sacerdotes.
No Antigo Testamento aparecem somente uma vez, no livro de Daniel, unidos aos astrólogos e aos encantadores como intérpretes dos sonhos (Dn 1,20; 2,2). Os “Magos” não gozavam de boa fama, tanto que o termo “mago” acabou por significar “enganador”, “trapaceiro”.
Para a religião judaica os magos são personagens duplamente impuros enquanto pagãos e dedicados a uma atividade condenada pelas Escrituras (Lv 19,26) e severamente proibida aos judeus: “quem aprende algo com um mago merece a morte” (Talmud babilonês: Shab. B. 75ª).
Também no Novo Testamento o termo “magos” possui sempre conotações negativas (At 8,9-24) e na catequese primitiva aos cristãos é proibido o exercício de magia, que é colocado entre a proibição de roubar e aquele de abortar (Didaqué 2,2).
O evangelista não se deixa condicionar por estes preconceitos religiosos e considera os “magos”, aqueles que a religião declara excluídos da salvação, como os primeiros a dar-se conta da salvação que Deus oferece a toda a humanidade.
Além da profissão de astrólogos-advinhos, Mateus oferece somente uma outra indicação, sobre o lugar de origem deles: literalmente “do levante [do sol]”. Os Magos são figuras representativas da humanidade que busca e deseja a salvação; neles se reconhecem todos aqueles que estão em condições de perceber a intervenção de Deus na história.
“perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’”. [Mt 2,2]
O motivo da aparição da estrela, juntamente com aquela da peregrinação dos povos pagãos ao monte Sião, é bem atestado no Antigo testamento, e Mateus utiliza ambas na história sobre o nascimento de Jesus, pelo seu caráter messiânico.
A chegarem a Jerusalém, os Magos logo perguntam sobre “o rei dos Judeus” apenas nascido. Nos evangelhos Jesus é chamado “rei dos Judeus” somente na narração da paixão, e precisamente, pelos pagãos: por Pilatos, pelos soldados, na inscrição sobre a cruz (Mt 27,11.29.37).
Os Judeus ao invés falam do messias como o rei de Israel (27,42). A expressão usada conscientemente por Mateus serve para indicar o Messias esperado, desde o momento que são os pagãos a interessar-se pelas esperanças do povo de Israel. Paradoxalmente, não foram os representantes da religião (sacerdotes, doutores, escribas...) a dar-se conta daquele evento mas um grupo de estrangeiros, os quais, depois de terem percebido aquele sinal particular, informam aos judeus sobre o nascimento do novo rei 9literalmente “vimos a sua estrela no seu surgir”.
Era opinião difusa no mundo antigo que cada homem tivesse a sua estrela, que surgia com o seu nascimento e desaparecia com a sua morte. O evangelista desenvolve depois esta imagem segundo uma precisa concepção teológica que remonta à profecia de Balaão:
“Vejo-o, mas não agora,
contemplo-o, mas não está perto
— uma estrela sai de Jacó,
um cetro se levanta de Israel...” (Nm 24,17)
Este oráculo se referia provavelmente ao futuro rei Davi, mas no judaísmo do tempo de Jesus foi aplicado ao Messias (cf. manuscritos de Qumran). O evangelista vê realizado o oráculo de Balaão com o nascimento de Jesus, cuja realeza (cetro) não se caracterizava pelo seu poder nem pela sua tirania (atributos de Herodes) mas pela sua fraqueza: um menino recém-nascido. Máxima expressão de tal fragilidade será manifestada sobre a cruz onde aparecerá novamente o título “rei dos Judeus” (27,37).
“Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”(Mt 2,3).
A notícia trazida pelos Magos coloca em alarme o rei com toda a sua corte e toda Jerusalém. A agitação e o medo de Herodes, demonstra a sua atitude de continua suspeita em relação aos possíveis pretendentes ao trono. O poder é sempre ciumento da própria hegemonia e temeroso que alguém lhe tire.
Também toda a cidade de Jerusalém treme em uníssono com o tirano que a domina. Este temor, por si só injustificado, preanuncia a rejeição do Messias por parte do seu povo e que culminará com a sua morte.
Mateus liga deste modo a expressão: “rei dos Judeus”, causa da perturbação de Jerusalém, co o título que será pendurado na cruz.
Aquilo que para os pagãos f]era um sinal de alegria é tomado pelos judeus como uma noticia terrificante. Enquanto o profeta Isaías tinha profetizado para Jerusalém uma manhã luminosa: “De pé! Deixa-te iluminar! Chegou a tua luz! A glória do SENHOR te ilumina” (Is 60,1), Mateus descreve Jerusalém, desde o primeiro momento do seu evangelho, como uma cidade envolvida nas trevas e acometida pelo medo.
A estrela, sinal divino percebido somente pelos pagãos/impuros, não brilha sobre Jerusalém; e não será possível experimentar Jesus ressuscitado nesta cidade, tanto santa quanto refratária a aceitar o Messias.
A cena recorda o terror que, segundo a tradição reportada por Flávio José, Faraó e todos os egípcios tiveram a notícia do nascimento de Moisés dada pelos Magos (Antiguidade judaicas 2,205): à chegada do libertador levou ao pânico os dominadores que decidiram a matança de todos os meninos hebreus (Ex 1,16).
Agora o anúncio do nascimento do novo rei alarma Herodes quem enquanto idumeu (de sangue não judeu e não de estirpe real). Não tinha o direito de ser rei e temia pela estabilidade do seu trono
“Reunindo todos os sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. (Mt 2,4)
Herodes convoca os membros do Sinédrio, o supremo colégio de governo do povo judaico, para pedir ulteriores informações sobre o nascimento daquele rei que ele identifica logo com o “Messias” (literalmente: “Cristo”). Isto revela o verdadeiro motivo do medo de Herodes e da sua corte: a chegada do Messias esperado, o libertador de Israel.
Se bem que a função de sumo sacerdote fosse somente de uma só pessoa, Mateus apresenta como um grupo ao qual pertenciam aqueles que já uma vez tinham exercitado esta função, e aqueles das famílias privilegiadas na qual eram escolhidos o sumo sacerdote.
Este grupo exercitava a jurisdição do templo e será o promotor da morte de Jesus. Junto a eles, os “escribas” (junto com os fariseus) se mostram como os mais agressivos adversários de Jesus. O fato que venham ulteriormente definidos como “do povo” está a indicar o forte influxo que eles exercitavam sobre a população.
“Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido” (Mt 2,7)
“Eles responderam: ‘Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta:...’” [Mt 2,5)
Os “doutores”, os entendidos da lei, respondem dando a indicação exata sobre o lugar em que devia nascer o Messias que corresponde com o v.1: Belém da Judéia. A consciência que eles tem das Escrituras não implica porém um interesse de verificar o cumprimento das promessas antigas.
Eles sabem que a pátria do Messias é Belém, a mesma de Davi: o menino recém nascido é portanto o Messias da casa de Davi. Ao recitar o texto profético Mateus omite a idéia de cumprimento porque a citação é posta na boca dos representantes do poder religioso. Os chefes e os intelectuais judeus, mesmo conhecendo as promessas que Deus tinha feito ao povo, não se mostram interessados por eles, nem possuem alguma perspectiva.
“E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. (Mt 2,6)
Na resposta dos teólogos oficiais, Mateus coloca juntos dois textos livremente citados e referentes à figura do Messias e do rei davídico: a profecia de Miquéias 5,1:
“Mas tu, Belém de Éfrata,
pequenina entre as aldeias de Judá,
de ti é que sairá para mim aquele que há de ser
o governante de Israel”.
e uma passagem rigorosamente messiânica como 2Sm 5,2:
“Já no passado recente, quando Saul era nosso rei,
eras tu quem conduzia Israel,
e o SENHOR TE DISSE:
Tu apascentarás o meu povo Israel
e serás o seu chefe”.
onde se acena a unção de Davi como rei de Israel.
Enquanto o texto de Michéias fala de um “dominador” Mateus corrige esta imagem acrescentando o texto de Samuel onde se acena a um “pastor”.
A função do “pastor” era aplicada a Davi (Sl 78,70ss) ou ao novo Davi (Jr 23,5;30,9;Ez 34,23). O rei Messias não dominará sobre o seu povo, mas o apascentará, cuidará dele desinteressadamente. Além disso se trata de uma nova realidade da qual fazem parte também os pagãos.
“Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido” (Mt 2,7)
Herodes, para não dar a conhecer os seus planos, convoca os Magos secretamente (são pagãos impuros que precisa evitar todo contato), ou seja, sem a presença dos sumos sacerdotes e nem dos escribas, e fazer dizer exatamente o momento preciso que apareceu a estrela.
Não é tanto a profecia sobre o Messias o que preocupa Herodes, quanto o fato que tenha existido um sinal particular para anunciar o seu nascimento. Herodes não vê a estrela, que nem mesmo brilhará sobre Jerusalém, e os únicos a fornecer os dados sobre o acontecido são os pagãos.
“Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo” (Mt 2,8)
Uma vez acertado que o povoado de Belém é o lugar onde se deve buscar o menino recém-nascido, Herodes envia os Magos com a tentativa de conseguir deles informações precisas.
Mateus caracteriza o personagem de Herodes pela sua hipocrisia, no qual finge de estar interessado no evento (porque também ele possa ir adorá-lo), enquanto na realidade se propõe a matá-lo.
“Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,9)
Somente quando os Magos se distanciam da capital, onde domina as trevas, eles podem de novo ver a estrela que lhes tinha precedido desde o oriente.
O evangelista, desde o início da sua obra, põe Jerusalém sob uma luz tétrica: naquela cidade onde ninguém espera o libertador é impossível que a estrela possa brilhar.
Se diz que a estrela, como se fosse uma pessoa-guia “ia adiante deles”, isto recorda a experiência dos israelitas no deserto quando Deus caminhava diante do seu povo: “O SENHOR os precedia, de dia, numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho; de noite, numa coluna de fogo para iluminar, a fim de que pudessem andar de dia e de noite. De dia não se afastava do povo a coluna de nuvem, nem de noite a coluna de fogo...” (Ex 13,21-22).
Na viagem rumo ao encontro com o Messias libertador também os Magos foram guiados por Deus. Se bem que a estrela não se identifique com o messias, mas serve para anunciar o seu nascimento, de certo modo antecipa a figura do novo rei, pelo qual conduz os povos pagãos – segundo a sua função de “pastor” recordada pela profecia – em direção ao lugar onde o rei se encontra.
“Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,10)
A reação dos Magos ao contemplar o sinal da estrela é de grandíssima alegria. É a primeira vez que no evangelho se fala de alegria, e Mateus o faz de maneira hiperbólica: “...sentiram uma alegria muito grande”.
Enquanto José foi convidado pelo anjo a “não temer” (cf. Mt 1,20) e aos habitantes de Jerusalém ficam perturbados (cf. v.3) são os pagãos, os excluídos da religião judaica, aqueles que provam um sentimento de plenitude como é aquele de uma imensa alegria. Os Magos são os primeiros que, tendo experimentado a sua libertação, levam aos outros a alegria da Boa Nova.
Mateus sublinha assim, indiretamente, o estado de submissão do povo judaico, oprimido por um sistema que impedia de experimentar uma felicidade plena.
“Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11)
Os Magos entram na casa, o lugar da nova comunidade, onde se encontram o menino com a sua mãe. A ausência de José pode ser justificada pelo fato que em Israel a figura do “rei e a sua mãe” constitui o casal real (cf. 1Rs 2,19; 22,42; 2Rs 10,13; 12,2; 23,31; 24,18). Mas a expressão “o menino e sua mãe” (cf. Mt 2,13.20) recorda também o nascimento virginal e designa Jesus como Filho de Deus.
A presença do verdadeiro rei se encontra, não num palácio, mas numa habitação simples (a tradição de uma gruta/estala é naturalmente estranha à narrativa evangélica), não no templo mas numa casa reside o “Deus-conosco” (Mt 1,23).
E enquanto Herodes juntamente com os habitantes de Jerusalém tremem com idéia daquilo que estão para perder, os pagão se alegram com o pensamento daquilo que estão em condições de “oferecer”.
A homenagem consiste no prostrar-se diante do menino e em oferecer-lhe os seus dons. O termo προσεκύνησαν= προσκυνἐηω = proskinéo= render homenagem prostrando-se no chão é típico de Mateus (por 13 vezes) que usa de modo particular neste capítulo (vv.2.8.11) e na cena da ressurreição (28,9.17). Desta maneira em todo o evangelho, do início ao fim, apresenta a realeza do Messias como expressão da sua condição divina (Mt 14,33).
Um outro vocábulo importante que o evangelista utiliza nesta cena é o verbo προσεκύνησαν προσήνεγκαν= προσφἐρω = prosferó = termo técnico para indicar “oferecer em sacrifício” que, no Antigo Testamento, é sempre evitado quando quem oferece são os pagãos (cf. Sl 72,10).
Com a escolha deste termo, Mateus apresenta os pagãos, os pecadores por excelência e muito mais os Magos, no ato de oferecer ao Messias os dons, de modo particular, aquele do incenso. Mas tal função respeitava somente aos israelitas e à casta sacerdotal. Isto significa que também os pagãos são elevados à categoria de “povo sacerdotal”.
O encontro dos Magos com o menino serve para indicar a sua realeza (“prostrar-se, o adoraram”) ressaltada pelos dons particulares que Ele recebe:
Ouro: símbolo da realeza, oferecendo ao rei significa que Ele não é somente rei dos judeus, mas também dos pagãos. Se constitui assim o Reino de Deus onde todos podem aceder a ele.
Incenso: era um dos elementos mais valiosos usados no ritual do Templo para os sacrifícios de ação de graças ou no pedido de proteção para que fossem de “suave odor” (Lv 2, Jr 6,20). Não era permitido usá-lo nos sacrifícios de expiação do pecado, segundo as instruções do Levítico: “Não incluirá azeite nem incenso, porque é oferenda pelo pecado” (Lv 5,11).
Mirra: no Antigo Testamento é o perfume da esposa (cf. Ct 3,6; 5,1.5). Israel se considerava a esposa de Deus. Para Mateus também os pagãos terão esta função e serão considerados “povo-esposa”.
As três características de Israel, aquela de ter Deus por rei, de ser o povo sacerdotal e esposa de Deus, são agora estendidas aos pagãos que entram a fazer parte do novo povo mas sem submeter-se À legislação de Moisés. Ao construir toda a cena, o evangelista teve presente dois importantes textos do Antigo Testamento referentes À homenagem que os pagãos teriam dado a Deus e ao rei ideal:
“Multidão de camelos te invade, dromedários de Madiã e de Efá, de Sabá trazem ouro e incenso, anunciando os louvores do SENHOR” (Is 60,6).
“Os reis de Társis e das ilhas vão trazer-lhe ofertas, os reis da Arábia e de Sabá vão pagar-lhe tributo. Que o adorem todos os reis da terra, e o sirvam todas as nações” (Sl 72,10-11).
A chegada dos pagãos comporta o reconhecimento da realeza universal do Messias e da sua salvação (aceita por quem vem de longe, mas rejeitada pelos de perto).
“ Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,12)
Os Magos advertidos por Deus – segundo quanto se tira da expressão “em sonho” – de passar novamente por Herodes de maneira que ele não venha a saber onde se encontra o menino, retornaram à sua terra “por um outro caminho”, expressão raríssima que no Antigo Testamento é usada para indicar o abandono do Santuário de Betel, a “Casa de Deus” (1Rs 13,9-10) onde se adorava o bezerro de ouro (1Rs 12,26.33), tornado símbolo do lugar idolátrico por excelência = Betaven = “Casa funesta” (Os 4,15).
Para o evangelista, Jerusalém não é a cidade santa onde Deus é acolhido, mas a casa do pecado onde o seu messias é assassinado: aquilo que não conseguiu Herodes os sumos sacerdotes conseguirão (Mt 26,65-66).
O aviso, que os Magos recebem e que agem imediatamente, indica a proteção divina que goza o menino recém nascido.