5° domingo do Tempo Comum - B



Mc 1,29-39

A)     “e ela começou a servi-los” (Mc 1,29-31)

1.Mensagem no contexto
                “E ela começou a servi-los”, diz Marcos sobre a sogra de Pedro curada. É o primeiro milagre, sem dúvida o mais insignificante. Esperar-se-ia que no início se narrasse algo mais sensacional. Mas isto é educativo. Os milagres de Jesus não são espetáculos de poder. Ao invés são sinais, que revelam por um lado a sua misericórdia – uma fraqueza que o levará até a cruz – e por outro o que ele quer realizar em nós para tornar-nos  pessoas novas, à sua imagem. Os primeiros dois – a sogra e o leproso – são curas globais, que indicam o novo espírito e a nova vida que ele nos dá. Os outros que seguem ilustram as várias curas especificas dos nossos membros e faculdades: os és para caminhar atrás dele, as mãos para receber e se doar como ele, os ouvidos para escutar a verdade, a língua para nos comunicar e os olhos para ver a realidade diante do qual somos o que somos. No centro está o milagre da fé, um tocar que sana a vida e liberta da morte (hemorroíssa e filha de Jairo, Mc 5,21-45). Os milagres estão todos na primeira parte do evangelho, e culminam no cego de Betsaida, que será iluminado duas vezes, como deverá sê-lo também Pedro para ver em Jesus além do Cristo também o Filho de Deus. Na segunda parte há somente a cura do cego de Jericó, antes da entrada em Jerusalém. É o dom da iluminação batismal, que me faz “ver” quem é ele para mim e quem sou eu para ele, no seu mistério de morte por mim. A pessoa humana tem necessidade destes milagres porque se tornou como os seus ídolos, nos quais serve e que o escravizam> tem pés e não caminha, mãos e não apalpa, ouvidos e não escuta, língua e não fala, olhos e não vê 9Sl 115,4-8).
                Na presente narração a pequenez do sinal dá vantagem à grandeza do significado. Um milagre mais extraordinário teria atraído a nossa atenção, em detrimento disto do qual é sinal. Se  ao tolo apontas a lua, ele olha aponta do teu dedo!
                Com este pequenino sinal o evangelista nos dá o significado de “todos” os milagres: são curas que Jesus realiza para restituir a cada um de nós a capacidade de servir, que é a nossa semelhança com Deus. Ele próprio é Filho enquanto servo (Mc 1,9-11). O verdadeiro milagre, que veio cumprir na terra, não é nada de espantoso: é dar-nos a capacidade de amar, ou seja, de servir.
                A sogra de Pedro, primeiro fruto maduro do evangelho, é o protótipo de todos os crentes. Na “casa de Simão” ela é o verdadeiro mestre na fé, porque modelo de vida. Através dela Jesus nos ensina não com palavras, mas com fatos e verdade (1Jo 3,18) quem é ele e qual é o seu Espírito, que ela silenciosamente encarna.
                As mulheres muito pouco contavam na cultura hebraica de então. Nem mesmo era válida o seu testemunho. Esta anciã, enferma e... sogra é a primeira que testemunha a vida nova.
                Este milagre sintetiza o quanto até agora foi narrado, desenvolvendo um passo ulterior. Crer no evangelho (Mc 1,15) significa seguir Jesus (Mc 1,16-20), na escuta da sua palavra (Mc 1,21s); está nos dá a libertação do mal (Mc 1,23-28) e a liberdade para o bem, que é o serviço.
                Semelhante a ele esta mulher é o primeiro “escriba”, que Jesus discretamente nos dá. A última será a pobre viúva despercebida, que expressamente nos aponta (Mc 12,41-44). Marcos em cerca de uma centena dos seus seiscentos versículos, fala das mulheres (e crianças, que são um apêndice). As figuras femininas ocupam os pontos chaves do evangelho (ver exatamente aqui e em Mc 12,41-44, como inclusão de toda a sua atividade; Mc 14,1-9 e 15,40-16,8 como inclusão do relato da sua morte e ressurreição; ver ainda Mc 5,21-43 e 7,24-30, onde se ilustra o que é a fé e qual é a sua força). Deus escolheu os pobres deste mundo para enriquecê-los com a fé e herdeiros do seu reino (Tg 2,5): com o que é tolo e fraco confunde os sábios e os fortes, com o que é vil, desprezível e inútil, reduz a nada as coisa que são (1Cor 1,26ss).
                Este trecho nos dê novos olhos e evangélicos para ver o que conta diante de Deus, que não olha segundo as aparências (1Sm 16,7).
Jesus é o médico. Com a sua palavra liberta do espírito do mal, e com o seu contato dá a capacidade do bem. Veio para nos dar a plenitude da vida e restituir-nos o rosto de filhos.
O discípulo é representado pela sogra: no leito com febre, incapaz de servir e constrangida a ser servida e servir-se dos outros. O contato com Jesus torná-la-á como ele, que veio para servir (Mc 10,45). Obviamente isto, que é o primeiro milagre do evangelho, será o último a realizar-se. É boa a regra de dizer desde o principio o fim pela qual se quer chegar!

B .Leitura do texto

v.29 “Jesus saiu da sinagoga e foi, , para a casa”: Há uma passagem da sinagoga, lugar do culto de Israel, à casa, que se tornará o lugar da catequese e do culto cristão. Em ambas há o mal: como espírito imundo ou como “febre”, que o revela.
“... de Simão e André com Tiago e João”: os primeiros quatro iniciam o seu caminho seguindo Jesus e aprendendo. Se tornarão discípulos quando terão compreendido de serem o endemoninhado que ele liberta, a sogra que ele cura. Os libertos e miraculados da primeira parte do evangelho são como espelho para nós, chamados a identificarmo-nos com eles, para pedir e obter o mesmo dom.
v.30. “A sogra de Simão estava de cama, com febre..”: esta febre, que a deixa em cama constrangendo a servir-se dos outros e impedindo de servir, é imagem daquele mal que paralisa cada pessoa humana lhe bloqueia a capacidade de amar, desenvolvendo-lhe amplamente a capacidade de escravizar.
                Na mesma casa Jesus diagnosticará e curará uma outra febre que os discípulos escondem consigo, que lhes faz ferver um contra os outro e lhes torna surdos à “palavra”: o desejo de ser o maior (Mc 9,32-35). É a mesma febre que os chefes das nações tem em comum com Tiago, João e todos os outros, enquanto litigam sobre os primeiros lugares (Mc 10,35-45).
“... e eles logo contaram a Jesus”: tirando os primeiros discípulos, chamados diretamente por ele, existe sempre uma mediação que nos leva a ele e ele a nós. È a mediação da Igreja, que prolonga no espaço e no tempo a sua presença. Mas o contato com ele e a sua palavra são sempre “imediatos” e de forma direta, de pessoa para pessoa. A necessidade da mediação, que consiste em falar ao Senhor das pessoas ou às pessoas do Senhor, é correlativa à responsabilidade que cada um tem do próprio irmão diante do Pai. Quem não se importa com o outro, não conheceu o Senhor.
v.31. “E ele se aproximou...”: Jesus não volta atrás diante do nosso mal. Não a nossa bondade, mas a nossa miséria atrai a sua misericórdia (cf. Mc 2,17).
“segurou sua mão...”: (cf. Mc 5,41). A sua mão toma a nossa, e nos transmite a sua própria vida. A cura acontece no silêncio, através do contato. Não é magia, mas uma verdade profunda: a nossa comunhão com ele nos confere a sua força.
“... e ajudou-a a levantar-se”: a palavra egheíro é usada para proclamar a ressurreição de Jesus. No v.35 a outra palavra usada em tal sentido: se levantou (anéste)
“Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los”: ou seja, a Jesus e aos outros. A nossa mão, “presa” à dele, é finalmente capaz de agir como a sua. “Servir” no Novo testamento significa amar concretamente. Jesus é o Filho porque escolher servir a Deus e aos irmãos (Mc 1,9-11). A mais bela definição que Jesus dá de si mesmo é aquela do Filho do homem que veio para servir (Mc 10,45).
O serviço é a cura da febre mortal da pessoa humana: o egoísmo, que a mata como imagem de Deus.
                A liberdade que Jesus trás consiste em estar, por meio do amor, a serviço uns dos outros (Gl 5,13). Amar verdadeiramente significa ajudar os outros nas suas necessidades e nos seus limites. Assumir os bens do outro, mais que amor, parece egopismo” “Carregai os fardos ns dos outros, assim cumprireis a lei de Cristo”, que “encontra a sua lenitude num só preceito: amarás o próximo como a ti mesmo” (Gl 6,3; 5,14). O egoísmo se expressa no servir-se, que leva à servidão mútua; o amor se realiza nos servir, que leva à liberdade do outro, para que ele mesmo possa servir. Somente assim, no serviço recíproco, somos todos livres finalmente.
                Depois de ter expulso em nós o mal, Jesus quer nos preencher do seu Espírito. Cada milagre restaura uma parte do nosso rosto divino de filhos.
                O serviço pode parecer pequena coisa. Pelo contrário é a púnica capaz de mudar tudo. Na verdade o mundo é um grande banquete de comidas saborosas. Mas há uma regra precisa: precisa comer com garfos compridos de um metro e meio. O inferno é onde cada um, buscando comer por si só, morre de fome e enforquilha o próximo. O paraíso é onde cada um dá ao outro: comem todos, e cada um sente prazer de dar e receber benevolência e amor.

C. Exercício espiritual

Entro em oração
Me recolho, observando o lugar: a casa de Simão e André, em Cafarnaum.
Peço o que desejo: indentificando-me com a sogra, peço a cura da febre que me paralisa e me impede de servir.
Colhendo os frutos, vejo, escuto e olho as pessoas: quem são, o que dizem, o que fazem.
Considero cada palavra do texto.

d) Passagens úteis:
Mc 9,33-35; 10,35-45;
Jo 13,1-17;
1Cor 1,26-29;
Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12.
 


 
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