O perdão dos pecados



1.Mensagem no contexto

o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados” diz Jesus enquanto perdoa o paralítico e o faz caminhar. “Nunca vimos uma coisa assim”, exclamam todos juntos.
         Somente Deus pode curar da lepra (2Rs 5,7); somente ele pode perdoar os pecados. Se a lepra é a enfermidade moral que destrói o externo, o pecado é a enfermidade mortal que destrói o interior da pessoa: é uma paralisia, que o impede de se movimentar e de alcançar Deus. Jesus purifica a nossa vida da morte justamente perdoando o pecado e nos recolocando no nosso caminho.
         Com este relato inicia uma série de cinco discussões entre a lei e o evangelho (Mc 2,1-3,6), entre a letra que mata e o Espírito que dá a vida (2Cor 3,6). Desde o início do seu ministério na Galiléia, Jesus se encontra em conflito com as autoridades religiosas, que logo entram em acordo com os civis para matá-lo 9Mc 3,6).  Também ao fim da sua atividade, acontecerão outras cinco discussões (Mc 11,27-12,37), onde se especificará o “seu” poder, que aqui se fala.
         Nesta, como nas seguintes disputas, não somente se reivindica a liberdade cristã da escravidão pela lei e se resolvem os problemas candentes para a comunidade cristã, como a comensalidade com os pecadores (Mc 2,15-17), o jejum (Mc 2,19,22) e a festa (Mc 2,23-3,6). Se trata, sobretudo, de reconhecer o “poder” de Jesus, o que ele veio fazer sobre a terra: ele veio para nos dar os dons que a lei não podia nos dar, mas que nos tinha suscitado o desejo, mostrando-nos a sua falta e fazendo-nos sentir a sua necessidade. Nenhuma lei pode fazer amar. E o mandamento de Deus é de amá-lo (Dt 6,4ss). Somente o perdão, descobrindo e acolhendo o seu amor gratuito, nos tornamos capazes de amar como somos amados. Por isto o poder de Jesus, o seu único poder, é o mesmo de Deus: perdoar.
         A lei é boa porque distingue o bem do mal, a vida da morte. Mas não salva ninguém, antes, nos condena a todos, porque seguimos a via do mal e da morte. Pela nossa consciência, se não nos defendemos, ela ressoa continuamente como reprovação e denuncia. O coração que sabe a verdade e não engana a si mesmo, está sempre compungido, convicto de pecado.
         A lei tem como fim fazer-nos ver a nossa lepra, de mostrar-nos a nossa paralisia e de nos convencer do nosso pecado, para que possamos nos dirigir ao médico, sabendo o que pedir com fé e conhecendo a graça que recebemos. É o “pedagogo” que traz o discípulo recalcitrante ao Mestre (Gl 3,24). A sua função é indispensável para nos reconduzir continuamente perante o perdão de Deus, onde somente é superada. Por isto a lei é perene; mas a sua função mesmo se não pode ser eliminada, é transitória, porque cessa quando chega a graça.
         O evangelho é a boa notícia que Deus não é a lei e nem a consciência, é maior do que o meu coração (1Jo 3,20). Ele é puro amor e graça, cuida da minha enfermidade e da milha morte; a ]o invés de excluir-me, toca-me como ao leproso; ao invés de condenar-me, me perdoa como ao paralítico. Assim me cura do que me impede de caminhar pela via do bem e da vida.
         Se pode dizer que, como a lei é o diagnóstico do mal, assim o evangelho é a sua terapia. Mesmo que diferentes, ambas são necessárias, como um bom diagnóstico é indispensável para uma terapia adequada.
         O centro do trecho é o perdão do pecado, que nenhuma lei e nenhuma consciência pode conceder.
         Neste relato está em jogo a verdadeira imagem de Deus, que é misericórdia e perdão como também a divindade de Jesus, que tem o poder de perdoar os pecados e ainda a salvação do homem, que finalmente sabe de ser amado sem condições.
         Jesus é o Filho do homem que tem na terra  o poder de Deus: perdoar os pecados. Aqui se declara expressamente e uma única vez o motivo de todos os seus milagres e da sua missão (cf. v.27): mostrar este poder. O perdão não somente é divino, mas é o próprio Deus, cuja potência é amor sem limites.
         O discípulo é aquele que por fé tem consciência de ser perdoado e agraciado por Jesus. Se sente não mais dividido, mas reconciliado com Deus, consigo mesmo e com os outros. A Igreja é representada como a casa da porta escancarada para as multidões, onde ele mesmo está no centro, para onde todos acorrem. Sobre ele também o teto é destelhado, aberto para o céu. Todo mal e pecado caem sobre ele, que na cruz levará as nossas paralisias. Assim poderemos caminhar para a casa do Pai.

Fonte:
Silvano Fausti, Ricorda e racconta Il vangelo, La catechesi narrativa di Marco, Àncora.  

 
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